Compro o que vejo ou vejo o que como? Como as marcas influenciam a nossa alimentação!

2025-08-21

Quando vamos às compras, quantas vezes paramos para refletir sobre o motivo que nos leva a escolher determinadas bolachas ou a preferir certo refrigerante? Muitas vezes, não é o sabor que guia a nossa decisão, mas sim uma embalagem colorida ou um anúncio divertido que vimos na televisão ou nas redes sociais. A verdade é que grande parte das nossas escolhas alimentares não é tão livre quanto pensamos.

Somos constantemente expostos à publicidade: nos anúncios televisivos, nas redes sociais, nos cartazes espalhados pelas ruas, nos vídeos do YouTube, nos jogos online e até através dos influenciadores digitais que seguimos. O marketing está em todo o lado e, mais do que nunca, influencia diretamente os nossos hábitos alimentares. Não é por acaso que os jovens são um dos principais alvos da publicidade alimentar.

As marcas sabem que, apesar de algumas limitações, os jovens dispõem de algum dinheiro próprio (como a semanada), influenciam as compras dos pais e representam os consumidores do futuro. Por isso, a indústria alimentar recorre a inúmeras técnicas para moldar, desde cedo, preferências e comportamentos de consumo. Quanto mais cedo começarmos a consumir determinados produtos, maior será a probabilidade de continuarmos a escolhê-los ao longo da vida, já que os hábitos adquiridos na infância e adolescência tendem a manter-se na idade adulta.

As marcas investem milhões de euros em campanhas de publicidade dirigidas a crianças e adolescentes. Embalagens com personagens de desenhos animados, cores vibrantes e brindes colecionáveis criam uma ligação emocional ao produto, sobretudo quando se trata de alimentos ricos em açúcar, sal e gordura.

Atualmente, a informação sobre alimentação circula de forma intensa e imediata, principalmente nas redes sociais, que se tornaram uma poderosa ferramenta de marketing com impacto direto nas escolhas alimentares dos jovens. Um estudo europeu da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que mais de 70% dos adolescentes já compraram um alimento depois de o verem promovido por influenciadores digitais [1]. Em Portugal, um outro estudo apontou que 93% dos produtos promovidos por influenciadores nas redes sociais não cumprem os critérios de alimentação saudável definidos pela OMS [2]. Grande parte destes conteúdos apresenta snacks, bebidas ou fast food como parte natural do dia a dia, transmitindo a ideia de que também deviam fazer parte da rotina de todos nós. No entanto, muitas dessas publicações resultam de parcerias pagas para promover esses produtos.

Enquanto isso, alimentos saudáveis como frutas e vegetais são raramente promovidos de forma apelativa, já que não geram tanto lucro como bolachas recheadas ou refrigerantes açucarados.

Outro ponto que merece atenção são os rótulos enganadores, muitas vezes repletos de promessas atrativas, mas pouco verdadeiras. Expressões como “zero gordura trans”, “rico em vitaminas” ou “natural” surgem em quase todas as prateleiras, mas podem esconder realidades menos positivas. Um cereal de pequeno-almoço anunciado como “rico em fibra” pode conter mais açúcar do que uma sobremesa, e um sumo dito “natural” pode ter pouquíssima fruta verdadeira.

Em suma, o marketing alimentar exerce um enorme poder sobre as nossas escolhas, levando-nos, por vezes, a consumir produtos que não beneficiam a saúde. Ao compreendermos como estas estratégias funcionam, conseguimos desenvolver um olhar mais crítico e tomar decisões mais conscientes sobre o que colocamos no prato. Por isso, é importante que todos cultivem este espírito crítico.

Dicas para escolhas mais conscientes:
👉 Pensar antes de comprar: estamos a escolher porque realmente gostamos ou porque vimos num anúncio?
👉 Ler os rótulos com atenção: sabemos mesmo o que estamos a comer?
👉 Variar a alimentação: o corpo precisa de diversidade para ser saudável.
👉 Desconfiar da “comida divertida”: nem sempre o mais colorido e apelativo é o melhor para nós.

Uma alimentação saudável começa com informação e consciência. Cabe-nos aprender a escolher com a razão e não apenas com os olhos.

[1] Organização Mundial da Saúde (OMS) – Estudo Europeu 2022 – “Digital food marketing to children”
[2] Direção Geral da Saúde (DGS) e NOVA Medical School – 2023 – “Marketing alimentar digital e crianças e jovem em Portugal”